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História sangrenta da Casa Targaryen é tema de ‘Fogo & Sangue’

27 de fevereiro de 2019 | Por: Alexandre Postigo

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De Aegon III Targaryen se disse que foi o rei mais melancólico que se sentou no Trono de Ferro. Natural: ter visto, quando criança, sua mãe ser queimada e devorada por um dragão deve ter sido uma lição exemplar sobre o quão dura a vida pode ser.

Outro que sabe bem o quanto a realidade e as pessoas podem ser cruéis, e que adora deleitar seus leitores com isso em seus livros, é George R. R. Martin, que em “Fogo & Sangue”, ‘tijolo’ publicado pela editora Suma, nos apresenta mais sobre a história do mundo de Game of Thrones, enfocando, neste volume, o que veio antes de Daenerys Targaryen e Jon Snow, da conquista do continente por Aegon I e suas irmãs até a maioridade do pobre Aegon III, um período de cerca de 150 anos.

Como o próprio Martin esclareceu em seu blog, “Sangue & Fogo” não é um romance no sentido tradicional do termo, mas funcionaria quase como um livro de História sobre a Casa Targaryen. O termo usado pelo escritor é ‘falsa História’.

Aegon III Targaryen , a Desgraça dos Dragões

Aegon III Targaryen , a Desgraça dos Dragões

Esse formato de ‘livro de história’ é reforçado de diversas maneiras pelo engenhoso Martin, de quem se diz, logo nas primeiras páginas, que não é o autor, mas apenas aquele que fez a ‘transcrição’ do texto original. O autor seria o arquimeistre Gyldayn, da Cidadela, também responsável por um volume que narra a chamada Dança dos Dragões, uma guerra civil ocorrida entre facções de Targaryen pelo controle dos Sete Reinos e já citada nas “Crônicas de Gelo e Fogo”.

Ainda dentro dessa perspectiva de documento histórico, há o questionamento permanente em “Fogo & Sangue”, pelo próprio ‘autor’, o arquimeistre Gyldayn, das fontes de informação utilizadas para estabelecer os fatos – mesmo procedimento, aliás, dos historiadores de verdade. Cogumelo, um bobo da corte que supostamente testemunhou várias das crises pelas quais passaram gerações de Targaryen, é utilizado pelo arquimeistre como uma das fontes do texto, mas com reservas, já que o bobo tendia, segundo Gyldayn, a apimentar e aumentar suas histórias, acrescentando sempre mais luxúria e sexo aos acontecimentos do que o razoável – ou do que o biologicamente possível.

O recurso narrativo de Martin, de fazer com que Gyldayn se apoie em depoimentos de outros para compor seu ‘documento histórico’, é bem interessante já que faz com que o arquimeistre trabalhe com versões do que aconteceu. Inclusive, quando as fontes não se entendem sobre os fatos, essa divergência é explicitada pelo autor fictício do texto, o que contribui para sobrepor a tudo – personagens, seus motivos, objetivos e os acontecimentos – um ar de mistério. Por sua vez, isso obriga que nós, leitores, passemos a imaginar e a ligar os pontos do relato: quem agiu, afinal, como canalha?, quem mandou envenenar determinado rei?, quem tinha a razão na disputa pelo Trono de Ferro? Não entregar tudo isso de bandeja estimula o leitor a embarcar ainda mais no universo fantástico retratado na obra, o que é um exercício bem agradável.

Semelhante nesses pontos a relatos históricos, o livro, por outro lado, está longe de ser frio, de tentar fazer um relato desapaixonado do sobe e desce dos reis Targaryen ao poder. Nem isso seria possível, imagino, considerando o tipo de material a ser narrado, que passa por guerras civis sangrentas, vinganças terríveis entre familiares, traições e intrigas palacianas. Afora isso, Martin faz questão de trabalhar a psicologia dos personagens. Aegon III, por exemplo, é assim descrito por Martin (usando para isso o arquimeistre Gyldayn): “Mesmo quando garoto, Aegon raramente sorria, e gargalhava menos ainda, afirma Cogumelo, e embora soubesse ser elegante e cortês quando necessário, havia uma escuridão dentro dele que nunca sumia”. Uma descrição nada fria.

Aegon I, o Conquistador, e suas irmãs/esposas

Aegon I, o Conquistador, e suas irmãs/esposas

Também são apaixonados os relatos sobre a rede de intrigas, escaramuças e armadilhas entre os personagens, e, por outro lado, os atos de nobreza e sacrifício descritos no livro. Como é próprio de seu texto e, mais do que isso, da forma como ele entende a vida, Martin mostra em sua literatura o pior, mas também o melhor do ser humano, sempre procurando entregar explicações para uns e outros comportamentos. É que, ao contrário de Tolkien, por exemplo, e de outras séries fantásticas quem sabe menos complexas, para Martin não existe propriamente o bem e o mal, mas apenas pessoas tentando sobreviver e, ao fazer isso, agindo de forma boa ou horrível. O que, como é óbvio, aproxima seus relatos de nossa própria realidade e tem, por extensão, grande potencial de criar empatia com o leitor. Tanto é assim que este último se verá, em determinados momentos, se tem coração, torcendo para que o fim de alguns personagens não seja muito sangrento, assim como para que o fim de outros seja bem tenebroso.

Como dito, o livro aborda cerca de 150 anos da Casa Targaryen, da Conquista de Aegon I ao início do governo de Aegon III. Pode-se esperar, então, um novo volume dessa saga, abordando o governo de Aegon III até Aerys II, o Rei Louco, último da linhagem antes da Rebelião de Robert, que nos leva às “Crônicas de Gelo e Fogo”.

Sorte nossa que ainda há muita história dos Targaryen a ser contata, sempre com muito fogo e, principalmente, sangue.

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