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Marvete, dubladora da kree Minn-Erva fala sobre trabalho em Capitã Marvel

27 de março de 2019 | Por: Alexandre Postigo

Minn-Erva, conhecida como Doutora Minerva nos quadrinhos, é uma guerreira da raça kree. Ela é interpretada pela atriz Gemma Chan em ‘Capitã Marvel’, último filme lançado do universo cinematográfico Marvel. Determinada, fiel aos seus valores e uma guerreira ela é dublada, no Brasil, pela paulistana Bruna Matta, de 32 anos, que guarda com a extraterrestre azul algumas dessas características. Bruna, no entanto, é mais descontraída que a kree e, nessa entrevista, ela fala um pouco sobre sua carreira e detalhes interessantes sobre o processo de dublagem.  Também dá seus ‘pitacos’ sobre o velho e controverso embate entre aqueles que gostam de filmes dublados e os que não dispensam as vozes originais dos atores.

Minn-Erva, interpretada em 'Capitã Marvel' pela atriz Gemma Chan

Minn-Erva, interpretada em ‘Capitã Marvel’ pela atriz Gemma Chan

Como surgiu o convite de dublar a Minn-Erva em Capitã Marvel?

Poxa, me ligaram do estúdio que gravou o filme e passaram uma horinha de escala – assim que chamamos as gravações da dublagem. Só me avisaram que seria uma escala de cinema. Mais nada! Daí, chegando lá (omgsfhiudhsfiudh!!), quase morri de felicidade ao saber que era o filme da Capitã! Geralmente a gente descobre na hora o que vai dublar. Tem muitas questões envolvidas, mas nesse caso é principalmente por conta de sigilo. Então, gravei e tive que esperar lançar o filme nos cinemas pra mencionar qualquer coisa! Assinamos contrato de confidencialidade e tudo. Então, o convite surgiu assim. O diretor escala o elenco do filme, vamos e gravamos. Alguns personagens precisam de teste, então chamam entre três a cinco dubladores para gravarem um trechinho e depois escolhem a voz que vai ao ar.

Você acompanhava os filmes da Marvel antes? É Marvete?

Totalmente!!! Eu adoro os filmes da Marvel, inclusive costumo ir em pré-estreia porque não aguento a ansiedade e desse jeito fujo de spoilers… inclusive tô ultra ansiosa pra saber o que vai rolar no próximo Vingadores. Dá vontade de reassistir todos os filmes… porque, né, muita coisa dos filmes antigos pode ter ligação com o novo… só não o faço porque no momento estou revendo Game of Thrones (risadas).

Como foi o processo de dublagem? A Disney faz alguma exigência diferente para os dubladores de seus filmes?

A voz da personagem, no Brasil, é da paulistana Bruna Matta

A voz da personagem, no Brasil, é da paulistana Bruna Matta

Foi bem tranquilo. O Fábio Azevedo é um diretor com o qual eu adoro trabalhar e costuma fluir muito bem. Ele vai guiando conforme vamos fazendo as falas, se tá no tom e na intenção que o ator gravou. Foi feito em menos de uma hora de gravação. Depois tivemos mais uma escala para fazermos ‘retakes’, porque às vezes acrescentam falas durante o processo. O filme de cinema, quando em processo de dublagem, nem sempre está finalizado. Então o estúdio pode receber, ao longo do tempo, várias versões até chegar na versão final. Falas podem ser colocadas, retiradas, modificadas…Geralmente gravamos com apenas um microfone. Pra cinema a gente utiliza dois microfones.

O que você acha do trabalho de dublagem que é feito no Brasil? É de boa qualidade?

Tem muito trabalho bom aqui no Brasil. A dublagem boa a gente costuma dizer é aquela que você assiste o filme e até esquece que o filme é dublado. Tem muita coisa de qualidade, fiel, que é feita com muito amor, carinho, mas atualmente está surgindo coisas horrorosas, medonhas, no ar. Tem coisas que são lamentáveis. E aí é uma dica que eu dou para todo mundo que assiste, não precisa nem ser um fã de dublagem, mas a pessoa que assiste um filme, um desenho, um documentário e acha que a dublagem está ruim, que está de má qualidade, que não são atores fazendo, tem que entrar em contato com os canais de televisão ou serviços de assinatura ou streaming reclamando. Reclamar, funciona. Teve casos de séries que estavam sendo gravadas em estúdios super ruins, com uma dublagem muito ruim, a galera reclamou e, a partir da outra temporada, foi mandada para um estúdio bom, com profissionais, com pessoas foda. Isso eu acho muito importante falar. Tem trabalhos bons e trabalhos que eu não consigo assistir dublado, eu preciso mudar de canal ou mudar a versão. Eu sempre reclamo, mas é bom que todo mundo tenha esse hábito. Às vezes, a gente só xinga nas redes sociais e não parte para um SAC e não chega num responsável da dublagem que vai coordenar essas coisas. E, nossa, tem muitos profissionais que eu admiro nessa área.

Hoje tem muito mais filmes dublados nos cinemas comerciais que uns poucos anos atrás. Tem gente que atribui a isso até a questão educacional: as pessoas teriam preguiça ou incapacidade de ler a legenda. Qual a sua teoria para esse fenômeno?

Cara, dá para passar o dia inteiro conversando sobre isso. O aumento dos filmes dublados no cinema vem de pesquisas que comprovaram que as pessoas precisam, querem assistir, e buscam filmes dublados. Isso não só no cinema, como na TV a cabo, no streaming, e eu acho importantíssimo existir a opção. Existem muitas pessoas, principalmente as mais velhas e as mais novas, crianças, que não conseguem mesmo acompanhar a legenda e muita gente que também não tem esse hábito ou que prefere dublado porque você consegue ver o filme, os detalhes. Quando você vê com legenda você acaba perdendo um pouquinho do filme pra ler a legenda. E tem muita gente analfabeta, muita gente que não consegue mesmo ler. Então, é uma questão de inclusão além de tudo.

Como está o mercado nessa área? Tem mais vagas se abrindo em função da ‘mania’ de dublar tudo?

Não há mania de dublar não, cara, é porque precisa mesmo ter essa opções. Antigamente, com só TV à cabo e TV aberta, você tinha poucas opções de poder passar coisas, então talvez os canais optassem pelo legendado. Aí, começaram a surgir essas pesquisas e viram que o público é carente de dublagem e que a dublagem aumenta a audiência desses canais. Pô, a pessoa pode estar vendo um filme na cozinha, lavando uma louça, fazendo comida e estar ouvindo o filme dublado.

O mercado está expandindo bem pela chegada dos streamings – Netflix, Amazon, Prime, Crunchy Roll, que é uma plataforma de animes. Os canais de Vivo Play e Net Now, esses canais onde você escolhe o conteúdo, você também pode escolher no controle entre dublado e legendado. É importante ter essa opções disponíveis.

O mercado se expandiu, sim, de alguns anos pra cá. Só que se expandiu também em termos de cursos para dubladores, de pessoas que querem dublar, de picaretas, porque a tecnologia deixou tudo mais fácil. Então, antigamente você tinha que comprar produtos e equipamentos muito caros e grandes. É um mercado que cresce por conta dessas demandas mas que tem muitos profissionais querendo entrar. Isso é uma coisa que nunca aconteceu tanto assim antes. A profissão está se popularizando.

Você fez algum curso específico para dublar bem?

Para começar a dublar primeiro você tem que ser um ator ou uma atriz. E, se for maior que 18 anos, tem que ter o registro profissional de ator. Depois disso, você precisa fazer um curso de especialização na área. Eu fiz na Universidade de Dublagem. Foi bárbaro, tem ótimos profissionais, é um curso que recomendo. E, então, você pode fazer algumas aulas particulares e aí, cara, é fazer muito estágio, assistir muito filme dublado, ir nos estúdios, sentar e ficar vendo a galera dublar, trocar ideia. Com o tempo, você vai fazendo uma pontinha aqui, uma vozinha ali, coisas pequenas, e isso vai te dando caldo para ir crescendo na área e aprendendo. Hoje em dia precisa fazer cursos, porque existe uma pressa do mercado que não te permite aprender e chegar crua no estúdio. Você precisa, pelo menos, saber como é que funciona a dinâmica no estúdio. Claro, experiência você vai tendo com o tempo, mas pelo menos o básico você precisa ter.

O que achou da sua personagem? Ela é uma boa pessoa? Fácil de dublar?

Cara, eu amei minha personagem e eu não posso falar muito para não dar spoiler. Se é uma boa pessoa? Não sei, aí tem que ver o filme para saber.

Nada é fácil de dublar para mim. Tudo sempre é um desafio grande, mas foi muito prazerosa a dublagem, foi muito gostoso esse trabalho. Tudo que faço curto muito, mas é muito mais especial quando a gente dubla alguma coisa que a gente gosta. Foram pouquíssimas vezes que gravei pra cinema e tive uma personagem assim. Então, foi maravilhoso!

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1 Comentário

  1. Renata disse:

    Ótima reportagem amigos, Parabéns!!

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