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Maiakóvski revolucionário reeditado no Brasil

24 de maio de 2018 | Por: Gabriela Potti

Poeta russo deu corpo ao ideal de arte esteticamente radical.

Maiakóvski 111Com tradução e ensaios de Boris Schnaiderman e Augusto e Haroldo de Campos, a antologia “Poemas”, editada pela Perspectiva, apresenta um panorama pré e pós-revolucionário de Maiakóvski, poeta que deu forma e conteúdo à arte revolucionária.

Ao longo da história, muitos autores abraçaram causas e, em nome delas, revelaram-se também revolucionários. Mas talvez apenas em Vladimir Maiakóvski, o mais entusiasta da Revolução Russa, essa alquimia tenha transcendido o conteúdo e ganhado corporeidade estética de fato. Certa vez, a também poeta Marina Tsvetaeva pontuou que “ser revolucionário não faz de alguém um poeta revolucionário”, mas que os dois “encontram-se apenas uma vez em Maiakóvski, pois ele é um revolucionário poeta, o milagre de nossos dias”.

E, apesar de rara, essa convergência entre o poeta ativista pela causa revolucionária e aquele que se entrega de corpo e alma à criação de uma arte esteticamente radical é algo inerente à figura de Vladimir Maiakóvski. Consciente e desafiador, ele não recuou sob nenhum pretexto às suas origens experimentalistas.

Sob o lema “sem forma revolucionária não há arte revolucionária”, ele se embrenhou na busca por procedimentos poéticos à frente de seu tempo. Na formulação de suas rimas inusitadas, que fugiam aos clichês poéticos da época, Maiakóvski buscava a sinergia perfeita entre a estrutura sonora e o tema. Em um ensaio sobre o poeta, seu célebre tradutor e estudioso, Boris Schnaiderman, conta que o autor do memorável “A plenos pulmões” chegou a escrever sessenta variantes do mesmo verso em sua trajetória de experimentalismo poético.

Numa poesia que alterna à natureza épica da temática revolucionária as faces lírica, satírica e até metalinguística da criação poética, Maiakóvski mostra que a plena participação na revolução de 1917 não anulou o trabalhador incansável do verso. Nesse sentido, reflete-se em sua obra a preocupação com o papel do poeta na sociedade, como revela o memorável “Conversa sobre poesia com o fiscal de rendas”: “Tenta-se por / essa palavra numa linha / mas ela não cabe, / força-se / e ela esfarinha. / Cidadão fiscal de rendas, / eu lhe juro, / as palavras custam / ao poeta / um duro juro. / para nós, / a rima / é um barril. / Barril de dinamite. / O verso, um estopim. / A linha se encendeia / e quando chega ao fim / explode / e a cidade em estrofe / voa a mil.”

Como parte de seus pares que estiveram à frente de seu tempo, Maiakovski pagou um preço alto por sua arte revolucionária. Duramente criticado pelos burocratas soviéticos, o poeta da revolução era acusado de ser incompreensível para as massas. Logo ele, que sempre defendeu a arte para todos: “que se eleve / a cultura do povo! / Uma só,/ para todos. / O livro bom / é claro / e necessário / a mim, / a vocês, / ao camponês / e ao operário.”

Ao percorrer versos de diferentes fases do autor, o leitor poderá reconhecer as rimas conscientes e desafiadoras tanto no Maiakóvski futurista da blusa amarela como no poeta taciturno que condenaria o suicídio do colega Iessiênin – “Você perdeu o senso? / Deixar / que a cal / mortal/ lhe cubra o rosto?” – e que poucos anos depois daria o mesmo ponto final à própria vida.

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