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Druk – Mais uma Rodada questiona, com leveza, o sentido da vida

9 de maio de 2021 | Por: Alexandre Postigo

Druk Directed by Thomas Vinterberg & Tobias Lindholm Produced by Sisse Graum Jørgensen  Photo Credit Rolf Konow is a must

“O que significa ser sensato?”. Não é uma pergunta tão fácil de responder. Por exemplo: infeliz na vida e no trabalho, um homem deve se sujeitar às regras da sociedade e a uma vida medíocre ou procurar alternativas para se libertar, se realizar, mesmo que sejam alternativas insensatas, fora do que a média das pessoas considera normal?

Essa é a pergunta que quatro professores se fazem em Druk – Mais uma Rodada, filme de Thomas Vinterberg vencedor do Oscar de 2021 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

O longa conta com a participação do ator Mads Mikkelsen, como Martin, um dos professores. Os dois já haviam trabalhado juntos no ótimo A Caça, de 2013

Ele e seus três amigos optam pela solução heterodoxa:  baseando-se em um estudo que defende que as pessoas precisam manter um teor alcoólico mínimo no sangue para relaxar, serem mais confiantes e assertivas, passam a beber diariamente.

A direção espontânea e a liberdade que aparentemente foi dada ao atores para improvisar funcionam de forma eficaz para retratar as cenas que se seguem, de homéricas bebedeiras. A comunhão dos quatro por meio do álcool nesses momentos, quase religiosa, fica reforçada pelo uso, ao fundo, de música sacra.

O efeito das bebedeiras é imediato e as aulas antes enfadonhas de Martin passam a ser animadas e elogiadas pelos alunos. Os outros professores obtém efeitos semelhantes, pelo menos nesse primeiro momento.

A fórmula bebida mais professores, claro, não poderia dar certo a médio prazo e os problemas começam a aparecer, como a dificuldade de moderar o consumo e a possibilidade, sempre presente, de cruzar a linha tênue de ficar mais alegre e confiante ao beber ou ser inconveniente para si e para outros.

Muito embora as cenas de bebedeiras possam fazer o espectador olhar em volta em busca daquela cervejinha, as consequências mostradas no longa deixam claro que tudo tem um preço, inclusive para o protagonista, Martin. Antes apartado de seus filhos e esposa pela absoluta falta de vontade de viver, a bebida lhe confere um novo olhar sobre as coisas e seu casamento. O (re)nascimento desse novo Martin traz revelações e dores, como é natural.

A câmera no rosto dos personagens ajuda a indicar que as mudanças pelas quais passam, algumas drásticas e trágicas, são essencialmente psicológicas, na forma de ver o mundo e a si mesmos.

Ao realizar um exame oral, um dos alunos dos professores evidencia bem essas mudanças, esse novo olhar para si. Citando o filósofo Søren Kierkegaard, o jovem apresenta a ideia de que, para amar o próximo e a vida, você precisa aceitar o fato de que é falho. Esse recurso matreiro usado pelo diretor, na terceira e última parte do filme, apresenta de forma explícita que, para além da bebida, a liberdade e a felicidade dependem da conscientização do indivíduo.

Como fica claro na dançante e alcoolizada cena final, não se trata de demonizar o ato de beber, mas apenas de afirmar o que deveria ser óbvio: os demônios que carregamos são sempre internos e nossos, não nascem em uma bebedeira e são anteriores a ela.

Sendo assim, passa mais uma caneca e saúde! (Com moderação).

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