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Que falta faz uma nova Semana de Arte Moderna de 1922!

21 de fevereiro de 2019 | Por: Gabriela Potti

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“Que a arte seja fiel a si mesma, renuncie ao particular e faça cessar por instantes a dolorosa tragédia do espírito humano desvairado do grande exílio da separação do Todo (…).” Com palavras apaixonadas como essas, Graça Aranha, um dos protagonistas do movimento modernista, abria a semana que sacudiu a arte brasileira em 1922.

Apesar de já ser uma senhora que completou 97 anos neste mês, a Semana de Arte Moderna vai sempre remeter à típica essência jovial que emana de toda arte vanguardista.  Nascida do desejo revolucionário de emancipação cultural do Brasil, a jornada de artes plásticas, música e literatura que provocou rebuliço no palco do Teatro Municipal de São Paulo de 13 a 17 de fevereiro rendeu muitas discussões acaloradas. Não por acaso, o evento até hoje é apontado como um marco da fundação da cultura moderna no país.

Encabeçado por um grupo de artistas paulistas, destacavam-se no movimento, além do próprio Graça Aranha, então pré-modernista, nomes como os dos escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade; os pintores Anita Malfatti e Di Cacalvanti; o escultor Victor Brecheret e o compositor Heitor Villa-Lobos.

No programa da Semana de 22, conferências, declamações, apresentações de dança e concertos aconteciam entre vaias e aplausos (há quem diga que mais entre vaias)…

Da mesma forma que já havia manifestações desta tendência cultural antes da Semana de Arte Moderna – como a exposição de obras da pintora Anitta Malfatti, a quem as críticas contundentes de Monteiro Lobato renderem outra polêmica à parte -, após a jornada de fevereiro de 1922 o movimento teve continuidade como a “Fase Heróica” do Modernismo Brasileiro. A proposta era romper com os padrões do cânone e, a partir de um olhar crítico em torno do nosso passado cultural e linguístico, conceber uma arte genuinamente brasileira.

Capa do livro ‘1922 – A semana que não terminou’, que relata os bastidores do encontro

Capa do livro ‘1922 – A semana que não terminou’, que relata os bastidores do encontro

Mas voltando às polêmicas: recebida com curiosidade nas rodas intelectuais, a Semana de 22 ficou famosa também pelo festival de vaias da plateia endinheirada que ocupou os assentos do Municipal. Corre à boca pequena no meio acadêmico, inclusive entre os estudiosos da semana, que Oswald de Andrade pagou para que estudantes da escola de direito da USP, o Largo São Francisco, atirassem tomates nele durante a declamação de um poema. Fato ou fake, o episódio vale por si só.

Outro aspecto interessante gira em torno da pintora Anita Malfati. Ficou popular a versão de que o retorno de seu estilo aos padrões mais cautelosos, de antes da Semana de 22, se deveu à recepção hostil de Monteiro Lobato à sua obra. Entretanto, já antes da exposição de 1917, a pintora retornava aos padrões mais contidos, aderindo ao movimento europeu de “retorno à ordem”, dentro do qual artistas diversos já começavam a abandonar o estilo radical para retornar aos padrões de equilíbrio. Esse e outros causos da Semana são esmiuçados no livro ‘1922 – A semana que não terminou’, de Marcos Augusto Gonçalves.

Polêmicas à parte, o fato é que a Semana de Arte Moderna foi um grito de independência cultural que faz falta nos dias de hoje, quando o normal é aderir, incondicionalmente e de forma acrítica, aos padrões estéticos (mas não apenas) que vêm de fora.

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