Graciliano Ramos e as armas da escrita

3 de outubro de 2016

Escrito por Fábio Cesar Alves, docente da área de literatura brasileira da USP, Armas de Papel realiza uma leitura ampla e profunda das Memórias do cárcere, clássico de Graciliano Ramos publicado postumamente (1953) no qual o escritor alagoano retoma a experiência de um período crucial da história do Brasil: a ditadura Vargas.

armas-de-papelPreso em Maceió, em 1936, Graciliano Ramos (1892-1953) foi enviado ao Recife e depois ao Rio de Janeiro, passou por três presídios e ficou onze meses detido sem que fosse realizado julgamento ou acusação formal. O drama do autor de Vidas Secas foi vivido por muitos de seus pares intelectuais durante o período em que alinhamento político à esquerda era motivo suficiente para repressão severa, tortura e encarceramento.

Ao relatar esse período histórico pelo filtro de sua vivência pessoal, Graciliano Ramos sobrepõe relato, documento e literatura, dando vida a algo raro na prosa brasileira: uma narrativa contundente, permeada por arbitrariedades e violência que tira o véu da cômoda (porém equivocada) leitura do homem cordial.

É nesse sentido que o estudo de Memórias do cárcere feito por Fábio Cesar Alves se apropria da duplicidade de vozes presentes no discurso, orientado não só pela experiência como também pela rememoração. Nesse percurso o professor da USP inevitavelmente remonta não só à história política do Brasil no século XX, como também provoca uma reflexão a respeito do papel desempenhado pelo escritor e pelo intelectual ao refletir (sobre) a realidade.

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