
Sem dinheiro para viajar nessas férias? Sem problema, leia Planetary, HQ de Warren Ellis e John Cassaday, e conheça o mundo. Mas esqueça a Torre Eiffel, Disneylândia e Bariloche. Você vai ser apresentado a algo muito mais selvagem, misterioso e fantástico: a história secreta do século XX.
Faz parte do itinerário dessa viagem, entre muitas outras maravilhas: uma visita à base abandonada (abandonada?) de aventureiros pulp esquecidos e sua criação máxima, e extremamente perigosa, um computador quântico; uma ilha radioativa no Japão habitada por o que só pode ser descrito como répteis e outros animais gigantescos; uma Hong Kong onde o fantasma de um policial, que parece saído de filmes de ação, se empenha em uma vingança sangrenta; e poderá entrar em contato com pedras mágicas que transportam pessoas para naves transuniversais.
E isso apenas no primeiro dos quatro encadernados que compõem a série e que foram publicados por aqui, mais recentemente, pela Panini.
Nesse passeio lisérgico e algo perturbador por esse mundo estranho – criado pelo senhor Ellis mas inspirado em tudo o que foi produzido em termos de quadrinhos, literatura fantástica, cinema, física e alguns outros campos do conhecimento humano (são muitos mesmo) ao longo do século XX -, você será ciceroneado por uma equipe igualmente estranha: Elijah Snow, com quase 100 anos de idade e um passado envolto em mistério; Jakita Wagner, superforte, rápida e que adora chutar umas bundas; e O Baterista, o hacker supremo, com a capacidade de falar com máquinas e de ser irritante.
Arqueólogos do Impossível, esse grupo, chamado Planetary, vai te levar a um passeio atribulado e perigoso.
Para sua sorte, o senhor Ellis, marionetista por trás de toda a trama, tem a capacidade de tornar relevantes para as novas gerações conceitos e personagens do começo do século XX, assim como explicar complicadas teorias físicas, entrelaçadas de forma inteligente à trama, por meio de um texto enxuto e certeiro.
O traço limpo e preciso do senhor Cassaday – que consegue esculpir naves, criaturas e prédios impossíveis de forma extremamente detalhista e, na mesma edição, criar climas e tons utilizando pouquíssimos elementos por quadro – contribui enormemente para a fluência da narrativa e para fazer de Planetary uma leitura que consegue ser ao mesmo tempo, e espantosamente, complexa e agradável de ler.
Ancorada no século XX, e até no século XIX (temos a presença, por exemplo, de um famoso detetive londrino na série), Planetary, por sua narrativa ágil, que avança por meio de fragmentos de texto e de diálogos, parece mais algo para o público do século XXI. Ellis, como é típico aos artistas de qualidade, está à frente alguns quilômetros de seus companheiros de profissão, agarrados que estão a estruturas narrativas datadas.
Isso é uma sorte para nós, leitores, viajantes nesse mundo estranho de Planetary.