Roland Barthes, escritor, crítico literário e semiólogo francês, foi atropelado por uma caminhoneta. Ferido, lutou durante dias pela vida e morreu em 26 de março de 1980. Isso é um fato.
Um acidente de trânsito? Não de acordo com “Quem Matou Roland Barthes?”, romance de Laurent Binet publicado na França em 2015 e que chega agora ao Brasil.

Se em seu livro anterior, “HHhH”, ao tentar reconstituir em detalhes o assassinato de um líder nazista, Reinhard Heydrich, Binet explicita a natureza precária da ‘verdade’ histórica, neste novo volume o escritor francês usa um dado da realidade, e personagens reais, como Michel Foucault e Umberto Eco e o próprio Barthes, para dar novas significações e camadas à sua história, claramente não-factual.
Ou será que é verdade que Roland Barthes foi assassinado porque portava um manuscrito que descreveria uma sétima função da linguagem, a ‘mágica ou encantatória’, além das seis defendidas por Roman Jakobson em “Linguística e Comunicação”? De acordo com a narrativa, quem dominasse essa função poderia induzir as pessoas a agir contra sua vontade, daí o interesse, até assassino, pela técnica.
O romance é um prato cheio para quem gosta de achar significações outras em um texto além das óbvias, explícitas, já que Binet maneja teorias linguísticas e elucubrações filosóficas ao mesmo tempo em que passeia por diversos gêneros novelescos, como o picaresco, o ‘campus novel’ (que se passa em universidades), o filosófico, o histórico e, principalmente, o detetivesco.
De modo semelhante a Eco em “O nome da Rosa”, Binet, aliás, reambienta os pressupostos deste último gênero, como a sempre presente dupla de investigadores que, neste “Quem Matou Roland Barthes?”, é formada, de forma improvável, por um investigador bruto e um acadêmico mirrado que, coitado, procura traduzir ao leigo termos linguísticos e filosóficos que podem ter relação com as motivações para o crime.
“Quem matou Roland Barthes?” é publicado pela Companhia das Letras e tem tradução de Rosa Freire D’Aguiar.