(contém spoilers)
Batman, Superman e Mulher-Maravilha trabalhando como uma equipe para derrotar um inimigo comum, Apocalipse, o monstro que, nos quadrinhos, matou o Homem de Aço.
A cena, que nunca imaginei ver na tela grande, é apenas uma das que me fizeram suar pelos olhos em Batman Vs Superman – A Origem da Justiça.
O que é curioso é que esse filme, do qual gostei tanto, tenha suscitado opiniões radicalmente opostas: ou você ama ou odeia o longa dirigido por Zack Snyder.
Mais do que uma colagem de cenas impactantes, como a narrada acima, me encantou como os arcos narrativos de cada um dos personagens os levam, inevitavelmente, primeiro à cena da luta entre os dois heróis e, depois, ao desfecho, o combate contra Apocalipse.
Nesse sentido, quem atua como marionetista, quem faz as coisas acontecerem no filme, é Lex Luthor. Interpretado por Jesse Eisenberg, o personagem parece indicar, em sua prolixidade às vezes desconexa, alguém com mais ideias na cabeça do que capacidade para expressá-las verbalmente. Essa característica, consciente ou inconscientemente impressa por Eisenberg, sugere o gênio e certa psicopatia em Luthor, características que sempre caem bem em um vilão.
Seja como for, é ele que fomenta em Bruce Wayne o ódio contra o Superman e lhe oferece os meios, a kriptonita, para vencer quem é apresentado como um potencial perigo para a humanidade.
Ben Affleck, aliás, faz o melhor Batman dos cinemas. Sua caracterização e, principalmente, as cenas de ação rodadas por Zack Snyder são ao mesmo tempo empolgantes e claramente inspiradas (algumas literalmente retiradas) das HQs, particularmente de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.
Já o Superman de Henry Cavill encarna um homem, ou um alien, dividido entre o desejo de realizar o bem para todos e a necessidade de se responsabilizar pelos efeitos colaterais negativos de seus atos, alguns dos quais potencializados e mesmo criados artificialmente por Luthor.
Depois de ter sido obrigado a matar o general Zod em O Homem de Aço, Kal-El, como acontece nas melhores histórias do Azulão nas HQs, se sacrifica, tal qual Jesus Cristo, pelos erros da humanidade, encarnada, se quiser, na figura de Luthor, aquele que tenta controlar tudo, natureza e pessoas, com seu intelecto.
Essa dinâmica toda, sentida mais que entendida no filme, é o bastante para caracterizar o Superman de Cavill como essencialmente o dos quadrinhos, em seus melhores momentos, inclusive. Ao contrário do Batman, movido pela vingança, Kal-El, é, essencialmente, uma boa “pessoa”.
Aqui, como com o Batman de Affleck, a beleza do roteiro e da direção de Snyder reside em aliar a caracterização perfeita dos personagens, o que agrada aos fãs dos quadrinhos, com sua relevância para o restante do público. Afinal, todo mundo consegue ter empatia por um herói, o Superman, que se sacrifica pela humanidade.
Fechando o triunvirato, Gal Gadot faz uma Mulher-Maravilha linda e que, quando em ação, convence como uma amazona treinada para a guerra. Mais importante, sua atuação enterra de vez a crítica descabida de que ela seria muito magra e pouco curvilínea para representar a princesa de Themyscira.
Mas resta a dúvida: se o filme, como nos melhores episódios do antigo desenho da Liga da Justiça, oferece personagens bem caracterizados e ação e aventura empolgantes, quais as razões da crítica, particularmente a norte-americana, ter recebido o longa com azedume?
Acho que parte da resposta pode ser encontrada no fato de que Snyder, ao contrário do que fazem muitos dos diretores da Marvel, não parece muito preocupado em agradar a todos os públicos. Além de não explicitar as manipulações de Luthor, muitas vezes sutis, ele ainda faz cenas inteiras, como o ‘sonho’ do Batman, que apenas fãs de quadrinhos podem desvendar. Quem de fora do mundo das HQs saberia que a figura que aparece para o Cavaleiro das Trevas é o Flash? Quem reconheceria os parademônios (aquelas figuras com asas no sonho) e saberia sobre Darkseid e seu Efeito Ômega? Snyder não se importa, e tampouco explica.
Esperando encontrar um filme da Marvel, acessível do avô ao bisneto, esses críticos se deparam com uma produção menos colorida, com ritmo mais lento (justamente o tempo que Luthor leva para colocar as peças em seus devidos lugares), onde as coisas não são entregues mastigadas e, ao contrário, é preciso fazer algumas inferências para entender o que está acontecendo e a razão dos personagens agirem como agem.
É possível aqui fazer uma analogia com o que acontecia nos quadrinhos nos anos 1980. Nessa época, a DC apostava em autores que ousavam e tentavam fazer coisas diferentes: além do próprio Cavaleiro da Trevas, base do filme de Snyder, são desse período Watchmen, Sandman, Monstro do Pântano e A Piada Mortal. Já a Marvel, como em seus filmes de hoje, apostava em fórmulas mais tradicionais.
Apesar de tudo ter dado certo para a DC com essas apostas, já que foram criados grandes clássicos dos quadrinhos, a história poderia ter sido bem outra. Afinal, quem arrisca mais está sujeito a ter perdas maiores, a cair mais.
Não é o caso deste Batman Vs Superman – A Origem da Justiça, já sucesso de público, mesmo que controverso entre os críticos.
Felizmente, quem paga os ingressos é o público.
Uma resposta
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