
O “homem mais perverso do mundo”. Assim Aleister Crowley (1875-1947), talvez o mais conhecido ocultista inglês, foi chamado por seus muitos detratores. Se a alcunha é exata, não se sabe. O que se sabe é que o mago foi uma das influências centrais do movimento de contracultura, a partir dos anos 60, e foi citado, direta ou indiretamente, por, entre muitos outros, Beatles, David Bowie, Iron Maiden e o nosso Raul Seixas.
A vida e a obra do ocultista, uma das personalidades mais controversas e influentes do século XX – até Fernando Pessoa se debruçou sobre sua obra -, é retratada em ‘Aleister Crowley’, história em quadrinhos de Martin Hayes e RH Stewart que o selo Chave, em parceria com a Editora Veneta, lança em pré-venda a partir deste mês.
Além de ocultista, criador da doutrina Thelema (de onde saiu o famoso verso ‘Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei’, adaptado por Raul Seixas em sua famosa ‘Sociedade Alternativa’), Crowley era muitas coisas: poeta, escritor, alpinista e exímio jogador de xadrez.
Era, acima de tudo, ao pregar o amor livre e a busca de uma vida mais elevada por meio do uso de drogas, um pioneiro da “rebeldia pop, do misticismo, da revolução sexual, do orientalismo, do vestuário como fantasia e manifesto, da yoga, da louca autoconfiança da celebridade, da imagem pública como principal obra do artista, do prazer em desafiar os preconceitos pequenos burgueses e, é claro, da psicodelia”, como consta no prefácio da edição brasileira de ‘O livro da Lei de Aleister Crowley’, o texto mais famoso do mago, também publicado pelo selo Chave.
Na biografia em HQ, Martin Hayes e RH Stewart mostram o nascimento de Crowley em uma rica família de fanáticos religiosos, a sofrida infância e adolescência nas escolas de elite, a descoberta da magia e a vida de escândalos que o transformaram em uma das maiores celebridades de seu tempo e o alvo favorito dos tabloides ingleses nos anos 30.
O mago e os quadrinhos
Pela quantidade de vezes que Crowley foi retratado ou citado nos quadrinhos, é bem adequado que a mídia seja o veículo utilizado para apresentar, também, uma versão de sua rica biografia.
O mago começou a ser referenciado com mais frequência nos quadrinhos americanos a partir dos anos 1970, com a chamada Invasão Britânica, quando quadrinistas do Reino Unido passaram a atuar para grandes editoras, como DC.
Os exemplos são diversos e incluem Neil Gaiman, que apresentou, logo nos primeiros números de seu genial Sandman, o mago Roderick Burgess, uma cópia descarada de Crowley (de quem, na HQ, é um rival).
Grant Morrison também cita “O homem mais perverso do mundo” em seus trabalhos rotineiramente, como na graphic novel Batman: Asilo Arkham, quando o escritor relaciona a biografia de Crowley à do fictício fundador do manicômio de Gotham City. Além disso, um dos personagens da HQ aparece diversas vezes lendo o Thoth Tarot, de Crowley.
Alan Moore, no entanto, parece verdadeiramente fascinado por Crowley e já o utilizou em diversos trabalhos: V de Vingança, em um dos volumes da Liga Extraordinária, Promethea (transformado em mulher) e até em Do Inferno, obra-prima do escritor sobre Jack, o Estripador, na qual Crowley aparece ainda criança. Além disso, é comum Moore fazer repetidas referências em suas HQs à data de 12 de outubro, quando o mago nasceu.
Mago, ou apenas um cara que gostava de drogas e sexo, Crowley, como se vê, continua a influenciar a cultura pop.
