“Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca”, disse o escritor inglês William Golding, ganhador do prêmio Nobel, sobre sua experiência na Marinha Britânica durante a Segunda Guerra Mundial. Autor de ‘O Senhor das Moscas’, livro preferido de muitos adolescentes e que tematiza, justamente, o mal como elemento constitutivo do homem, Golding volta agora às livrarias com seu segundo e, dizem, preferido romance: ‘Os herdeiros’.
No livro, de 1955, o autor retrocede até os primórdios da humanidade para tratar do choque, que existiu de fato, entre o homem de Neandertal, com sua cultura primitiva, seu sistema de comunicação e seus medos, e uma espécie muito mais avançada, e violenta, o Homo sapiens.
Tendo estudado ciências naturais em Oxford, Golding parece ser o homem certo para descrever com apuro o embate.
Na trama, Lok é um dos remanescentes de um grupo de Neandertais que, com o fim do inverno, migra de uma região costeira para terrenos mais altos, no meio da floresta. O problema é que o terreno, que eles conhecem muito bem, está sendo alterado radicalmente por um grupo de Homo sapiens.
Ateu e pessimista quando à espécie humana, Golding parece querer apresentar, novamente, como em ‘O Senhor das Moscas’, uma história sobre a perda da inocência e o potencial para o mal presente em todos nós. Neste ‘Os herdeiros’, no entanto, ao invés de crianças perdidas numa ilha que, em meio à luta pela sobrevivência, fazem coisas inimagináveis, o romance dá voz ao homem de Neandertal, espécie da mesma forma ‘inocente’.
É da Editora Alfaguara a nova edição brasileira do romance, que tem tradução de Sergio Flaksman, 216 páginas e custa R$ 32,90.