Neil Gaiman, no prefácio de um dos volumes encadernados de Astro City, série que retorna às bancas brasileiras pela Editora Panini, em março, com a publicação de seu primeiro arco, ‘Vida na Cidade Grande’, disse:
“Astro City é o que teria acontecido se aquelas outras velhas HQs, com sua simplicidade e seus personagens primordiais em quatro cores, falassem sobre algo. Ou, quem sabe, Astro City assume que elas eram mesmo sobre alguma coisa, e conta a você as histórias que, de modo geral, se perderam nas frestas.”
O que o autor de Sandman quer dizer é que aquele que lê Astro City experimenta, efeito normalmente associado à boa arte, várias camadas de emoções e entendimentos. As coisas não significam, explica Gaiman, no gibi, apenas o literal, não são simples histórias do bem versus o mal, mesmo que estejam presentes (ainda bem!) todos os elementos normalmente associados ao mundo das HQs de heróis: batalhas épicas com vilões, monstros caminhando nas ruas e espiões alienígenas planejando invasões.
O nível de complexidade das histórias explica-se, em parte, pela estratégia do escritor, Kurt Busiek, de colocar, em meio a esses seres fantásticos, pessoas comuns, com suas preocupações comuns e suas fragilidades. Fragilidades, aliás, percebe-se ao visitar por mais tempo as ruas de Astro City, também presentes em heróis e, por que não?, vilões, monstros e alienígenas. São todos feitos do mesmo material, parece nos dizer Busiek e, se cortados, sangram (a maioria deles, pelo menos).
Não é, claro, a primeira vez que esse recurso, mostrar seres fantásticos sob o ponto de vista das pessoas comuns, é utilizado pelo escritor. Também o fez em Marvels, utilizando os heróis e vilões da Casa das Ideias.
Aqui, em Astro City, o desafio é maior, já que os autores optaram por homenagear e fazer referência a personagens das duas grandes editoras de heróis, Marvel e DC. Assim, em Astro City, o Samaritano, herói muito parecido com o Superman, da DC, convive com a Primeira Família, grupo similar ao Quarteto Fantástico, da Marvel. O amor dos autores por todos esses personagens transparece em cada página.
No Brasil, depois de edições pelas editoras Pandora, Devir e Pixel, o leitor não tem contato com Astro City desde 2008.
Que à ‘Vida na Cidade Grande’ se sigam os outros encadernados da série, que recomeçou a ser publicada em 2013 nos EUA, agora pelo selo adulto da DC, Vertigo.
Astro City Vol. 1 – Vida na Cidade Grande
(formato 17 x 26 cm, 196 páginas, R$ 23,90)
Kurt Busiek, roteiros; Brent Eric Anderson, desenhos; e Alex Ross, capas e design de personagens