Heróis complexos de Astro City voltam às bancas

15 de março de 2015

post11Neil Gaiman, no prefácio de um dos volumes encadernados de Astro City, série que retorna às bancas brasileiras pela Editora Panini, em março, com a publicação de seu primeiro arco, ‘Vida na Cidade Grande’, disse:
“Astro City é o que teria acontecido se aquelas outras velhas HQs, com sua simplicidade e seus personagens primordiais em quatro cores, falassem sobre algo. Ou, quem sabe, Astro City assume que elas eram mesmo sobre alguma coisa, e conta a você as histórias que, de modo geral, se perderam nas frestas.”

O que o autor de Sandman quer dizer é que aquele que lê Astro City experimenta, efeito normalmente associado à boa arte, várias camadas de emoções e entendimentos. As coisas não significam, explica Gaiman, no gibi, apenas o literal, não são simples histórias do bem versus o mal, mesmo que estejam presentes (ainda bem!) todos os elementos normalmente associados ao mundo das HQs de heróis: batalhas épicas com vilões, monstros caminhando nas ruas e espiões alienígenas planejando invasões.

O nível de complexidade das histórias explica-se, em parte, pela estratégia do escritor, Kurt Busiek, de colocar, em meio a esses seres fantásticos, pessoas comuns, com suas preocupações comuns e suas fragilidades. Fragilidades, aliás, percebe-se ao visitar por mais tempo as ruas de Astro City, também presentes em heróis e, por que não?, vilões, monstros e alienígenas. São todos feitos do mesmo material, parece nos dizer Busiek e, se cortados, sangram (a maioria deles, pelo menos).

Não é, claro, a primeira vez que esse recurso, mostrar seres fantásticos sob o ponto de vista das pessoas comuns, é utilizado pelo escritor. Também o fez em Marvels, utilizando os heróis e vilões da Casa das Ideias.

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Aqui, em Astro City, o desafio é maior, já que os autores optaram por homenagear e fazer referência a personagens das duas grandes editoras de heróis, Marvel e DC. Assim, em Astro City, o Samaritano, herói muito parecido com o Superman, da DC, convive com a Primeira Família, grupo similar ao Quarteto Fantástico, da Marvel. O amor dos autores por todos esses personagens transparece em cada página.

No Brasil, depois de edições pelas editoras Pandora, Devir e Pixel, o leitor não tem contato com Astro City desde 2008.

Que à ‘Vida na Cidade Grande’ se sigam os outros encadernados da série, que recomeçou a ser publicada em 2013 nos EUA, agora pelo selo adulto da DC, Vertigo.

Astro City Vol. 1 – Vida na Cidade Grande
(formato 17 x 26 cm, 196 páginas, R$ 23,90)
Kurt Busiek, roteiros; Brent Eric Anderson, desenhos; e Alex Ross, capas e design de personagens

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