Márcia Tiburi e a barbárie nossa de cada dia

2 de novembro de 2015

blog-marcia-tiburi-perfilEm tempos em que uma proposta de redação sobre a persistência da violência contra a mulher ganha rótulo de esquerdista e feminista nas redes sociais, o novo livro de Márcia Tiburi, “Como conversar com um fascista” (Editora Record) não poderia ser mais atual. A reação de uma parcela da sociedade (infelizmente não tão pequena como se pensa) à proposta do Enem é a melhor expressão de um sintoma assustador que vem tomando conta da sociedade brasileira nos dias atuais e constitui o centro da reflexão da obra de Tiburi: o ódio ao outro.

Esse ódio, que ganha expressão nas posturas classistas contra jovens de periferias, na homofobia, no apoio ao genocídio indígena, é para a autora cifra de tempos fascistas, em que a democracia está ameaçada e mais do que nunca se faz necessário um poder da diferença, um poder compreensivo que acolha a tradição dos oprimidos.

Segundo Tiburi, hoje se testemunha um retrocesso ao fascismo, pessoas morrem constantemente, por violência, por descaso, sem que isso suscite reflexão alguma. Pelo contrário, o papel dos meios de comunicação nesse sentido é sobrepor o maior número de casos de morte possível, num ritmo alucinante para estancar qualquer possibilidade de reflexão sobre os fatos.

Aos que conseguem enxergar para além da fresta do autoritarismo, a via do diálogo parece ser a melhor saída, mas de que forma estabelecê-lo dentro de uma sociedade que perdeu a dimensão do diálogo? Quando se apaga a percepção do outro, é minada qualquer possibilidade de comunicação verdadeira, daí a dificuldade de se dialogar com um fascista.

Não se trata simplesmente de alguém que vê no outro um desigual, mas que se julga no direito de silenciar também, já que a “personalidade autoritária não reconhece nada fora dela mesma…Nada pode ser contra seu modo de pensar, de sentir e de ver o mundo”, comenta Tiburi. Nesse cenário, tão pouco acolhedor às vozes que timidamente sonham em criar alternativas para a sobrevivência de uma política democrática, as semelhanças, infelizmente, por ora, não são meras coincidências.

Serviço:

Como conversar com um fascista

Autora: Marcia Tiburi

Editora: Record

Preço: R$42

Páginas: 196

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