A frase que intitula um dos capítulos de “Maiakovski: vida e obra”, de Fernando Peixoto, remonta a uma das tantas passagens curiosas da vida do poeta russo. Em 1927, durante uma das inúmeras conferências que realizava em cidades do território soviético, Vladimir Vladimirovitch Maiakovski (1893 – 1930) foi questionado por um espectador por que ele somente tratava de assuntos tristes, deixando de abordar temas belos, como as flores. A resposta do poeta foi contundente e de uma atualidade indiscutível nos dias de hoje: “As canalhices suprimidas, as rosas voltarão a florir”.
Noventa anos depois, a resposta do poeta soviético não poderia ser mais adequada ao cenário político e social brasileiro. Na Rússia pré-revolução trabalhadores viviam em extrema miséria e pobreza, pagando altos impostos para manter a base Czarista. Por aqui, as mudanças nos direitos trabalhistas e previdenciários prometem, de forma semelhante, um futuro aterrador.
É nesse sentido que ganham fôlego os versos de Maiakovski. “Cravado no papel com os cravos das palavras”, o poeta se entregou com paixão a tudo o que acreditava. Das mulheres que amou à revolução socialista, seus versos transbordavam intensidade. Perante enganos e desenganos ante as frustrações com os rumos que a URSS tomava, sempre foi inabalável na defesa de um futuro justo para seu país por meio da poesia. Poesia esta que, aliás, não era revolucionária apenas no conteúdo, mas na forma.
Ironicamente, a não compreensão da estética inovadora de sua arte talvez seja um dos fatores que levou o poeta ao suicídio em 1930.
Seja como for, adivinhar o que o fez tomar a trágica decisão de acabar com a própria vida é uma preocupação periférica diante da importância de sua obra. Hoje, autores como Maiakovski são mais do que atuais, são necessários. O cenário que se avizinha necessita mais do que nunca de artistas da palavra que enxerguem além das flores, quando o estopim está aceso.