Um Marques de Sade mais comportado, pero no mucho

5 de março de 2018

Em Novelas trágicas o leitor tem contato com uma versão mais recatada, porém perversa, do Marquês de Sade

Menos lascivo, porém com as vivas cores da tragédia, o autor de 120 dias de Sodoma, Marquês de Sade (1740-1814), substitui as descrições de atos sexuais e torturas, habituais em suas obras, por narrativas catastróficas em Novelas trágicas, editado pela primeira vez no Brasil pela Carambaia, com tradução e posfácio de André Luiz Barros.

Nessas histórias, personagens vigorosos acumulam infortúnios causados pela desordem a que os vícios e vicissitudes da condição humana, assim como as paixões e a própria fatalidade, condenam a existência.

A novela Corval, por exemplo, que integra a compilação, é uma autêntica tragédia elevada à máxima potência, com direito a assassinatos, incestos e uma série de desventuras cujas causas extrapolam os limites da vontade e apresentam os personagens como meros joguetes do destino.

Escritas entre 1787 e 1788, enquanto Sade estava preso na Bastilha – de onde se originaram também algumas de suas obras libertinas mais conhecidas, como 120 dias de Sodoma , as Novelas trágicas apresentam singularidades em relação ao conjunto de textos do Marquês.

Sem perversões, orgias, estupros grupais e degustações de matéria fecal, as novelas inéditas no brasil, mesmo que de uma forma diferente do que costumamos ler na escrita do Marquês, trazem à tona a hipocrisia e o moralismo barato da sociedade burguesa da época (da época?).

O projeto gráfico de Novelas trágicas, de Luciana Facchini, com ilustrações de Zansky, propõe um jogo que remete às atitudes dissimuladas dos personagens do próprio texto do Marques. O livro vem inserido numa luva que funciona como uma máscara: quando sobreposta aos desenhos, tanto das capas como internos, revela traços escondidos nas ilustrações.

 

Polêmico na vida e na literatura

Sade passou quase metade dos seus 74 anos de vida encarcerado. Preso por sodomia, rituais cruéis praticados com servas e servos entre outras acusações, o autor chegou a permanecer uma década na cadeia por conta do livro Justine.

De todas as obras de sua autoria, Sade só assinou duas durante a vida, tendo a maioria de seus escritos censurados (quando não lhe davam papel escrevia com vinho, sangue e até fezes nas paredes da sua cela).

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