Hilda Hilst na Flip: uma provocação às hordas conservadoras

4 de fevereiro de 2018

hilda-hilst3Em tempos como o nosso, quando o conservadorismo acena, a homenagem da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) a Hilda Hilst, escritora conhecida por seu caráter transgressor – e, alguns dizem, pornográfico e muito literal sobre a sexualidade –, além de certeira é, até certo ponto, provocativa. 

Autora de uma obra densa, que inclui prosa, teatro e poesia, a paulista de Jaú Hilda Hilst (1930-2004) passou a vida se queixando do silêncio em torno de sua produção. Hoje, considerada uma das mais importantes vozes literárias do Brasil, Hilda, por muito tempo, foi descrita como escritora de uma obra difícil e hermética. “Tábua estrusca” foi uma expressão comumente usada para se referir ao seu estilo, então tido como incompreensível, até o começo dos anos 1990.

download (9)Foi apenas após os 60 anos de idade que Hilda começou a usufruir do reconhecimento e, mesmo recebendo os mais importantes prêmios do país, a própria autora dizia que não conseguia pagar suas contas com o fruto do seu trabalho. A prerrogativa de que um escritor não pode viver de literatura, como um médico vive da medicina e um advogado do direito já é frustrante por si só. Soma-se a ela o agravante de um reconhecimento tardio a uma grande poeta, prosadora e dramaturga que passou anos lutando contra o desdém da crítica e a incompreensão dos leitores (ou de ambos).

Criadora de uma obra intensa em todas as suas fases, Hilda Hilst estreou aos 20 anos. Sempre fiel ao modelo clássico de poema, suas influências percorrem poesia portuguesa e temáticas como amor, morte e transcendência (temas existenciais). Da poesia rica em imagens – “Olhamos eternamente/para as estrelas/como mendigos/que eternamente/olham para as mãos” – à literatura pornográfica que incendiou o canônico mundo das letras e pela primeira vez rendeu à autora vendas em tempo recorde, a escrita de Hilda é marcada pela originalidade de quem paga um preço alto para enfrentar uma crítica do século XX com cabeça da era vitoriana.

42120563Não por acaso, hoje, mais do que nunca, seu estilo provocativo e desafiador, tanto no conteúdo quanto na forma, é não apenas uma reposta aos falsos pudores que permeiam sociedade, mas também uma arma de combate a preconceitos na literatura, e fora dela.

Leituras

Para os leitores que quiserem se aventurar pelo universo literário da homenageada da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) 2018 dois títulos são um bom começo. Ex-detentora dos direitos autorais de Hilda Hilst, a Globo Livros tem em seu catálogo a série de entrevistas com a autora “Fico besta quando me entendem”. No volume, conversas entre a escritora e diferentes entrevistadores revela um mosaico de ricos aspectos de sua obra.

A Companhia das Letras, que atualmente edita os livros de Hilst, lançou recentemente um box com a poesia completa. Neste ano, vai editar um volume de prosa e, futuramente, uma biografia.

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