A barbárie nossa de cada dia

3 de abril de 2016

 

Adaptado do romance The Revenant: A Novel of Revenge, de Michael Punke, O Regresso, recente filme de Alejandro González Iñárritu, suscita uma profunda reflexão sobre o selvagem que habita cada um de nós.

(Apesar de O Regresso já ter entrado e saído de cartaz, e ter rendido a Leonardo DiCaprio, inclusive, um Oscar, a discussão contida no texto abaixo, sobre a natureza, ainda, primitiva do homem, é, mais do que nunca, relevante. Não postado à época em função de questão técnicas, segue, agora, a crítica.)

leonardodicaprio-oregresso

Ambientado no século XIX, o filme acompanha a história real de Hugh Glass, interpretado por Leonardo DiCaprio, um guia de caçadores que parte para o oeste americano disposto a ganhar dinheiro explorando um dos cenários mais inóspitos já retratados no cinema. Atacado por um urso, Glass fica seriamente ferido e é abandonado à própria sorte pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy). Como se esses elementos não fossem ingredientes suficientes para o despertar da ira do protagonista, Glass ainda tem no assassinato do filho um fator decisivo para empreender sua odisseia em busca de vingança.

Se as razões para desforra já saltam aos olhos, as adversidades enfrentadas pelo personagem central seguem em seu encalço no decorrer de toda a trama. O cenário natural parece, aliás, incorporar um antagonista à parte: congelante, predador, imprevisível, inóspito. O pior é que ele não é o único. Não bastassem a fome, as tempestades de neve e os penhascos, Glass tem contra si índios, franceses e tantos outros que, como ele, empreendem uma busca árdua pela sobrevivência.

Literalmente dilacerado e mergulhado num ambiente hostil, nosso protagonista, para matar a sede de vingança, precisa vencer o maior dos rivais: a si mesmo. Enterrado vivo, Glass submete-se a provações torturantes (para ele e para o próprio espectador) quando a morte seria uma reconfortante saída.

A partir daí, o herói empreende uma espécie de odisseia da barbárie que, apesar de impactante a cada cena, não nos é de todo estranha em tempos de intolerância, miséria, guerras civis e violações dos direitos humanos (só pra citar alguns exemplos de males que seguem vivos pelos quatro cantos do globo e principalmente aqui ainda nos dias atuais).

Solitário, Glass inicia uma jornada que traz à tona a selvageria que habita o ser humano de todas as épocas na luta pela sobrevivência.  Ambientado em 1822, O Regresso faz aflorar da envergadura epidérmica da civilização a essência rude e hostil da barbárie que coabita a natureza humana desde sempre. Talvez tão torturante como o esfacelamento físico e a árdua jornada do herói seja a consciência do espectador de que estamos regressando – ou pior, nunca saímos – da barbárie com o agravante de que a sobrevivência talvez não seja nosso único motivo. 

Leia Também

Chutando a bunda do patriarcado e não pedindo perdão

No último Mad Max, “Estrada da Fúria”, quem não tem tanto protagonismo assim é justamente Max, coitado. Em seu lugar, prevalece na telona a Imperatriz

Quem será o novo vilão da Marvel nos cinemas?? A gente (acha) que sabe

Quem será o novo Thanos do universo cinematográfico da Marvel?!? Todo mundo especula, mas apenas a gente, aqui do Balaio Pop, sabe quem será! (Além

Rei Leão, filme, é igual à animação. É isso que o povo quer?

“Psicose”, um dos mais perturbadores filmes de Alfred Hitchcock, lançado no começo dos anos 1960, foi refilmado em 1999 por Gus Van Sant. Apaixonado pelo

Deixe o seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *