O fingidor: quando viver é preciso

21 de março de 2015

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E se poucos dias antes de morrer, não mais satisfeito com seus mais de 120 heterônimos, o poeta Fernando Pessoa decidisse deixar a caneta de lado para incorporar um heterônimo vivo? Esse é o ponto de partida de O fingidor, um dos mais festejados espetáculos inspirados no poeta, de volta ao palco do Tucarena.

Marcada por uma série de efemérides – 50 anos do TUCA, 80 da morte do poeta e 15 da peça –, a reestréia do espetáculo escrito e dirigido por Samir Yazbek é uma bela forma de celebrar a eterna novidade do enigma Fernando Pessoa dentro da literatura mundial.

Longe de recursos simplistas que penderiam para a teatralização da vida do poeta regados a declamações de seus poemas, O fingidor segue por uma outra via. Original, simples e bem-humorado, o texto de Yazbek se serve da heteronímia para trazer à tona um personagem que o poeta nunca criou, o datilógrafo Jorge Madeira.

Tendo como ponto de partida um Fernando Pessoa que, insatisfeito de “simplesmente” criar poetas, decide se candidatar a trabalhar para José Américo, um profundo conhecedor da obra do próprio Pessoa, O fingidor dá uma aula de heteronímia.

Transpostos para a imaginação do poeta, os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro surgem no palco em vários momentos, colocando seu criador contra a parede. Incomodados com a “novidade” Jorge Madeira, os três, cada qual com seu jeito peculiar, questionam a decisão de Pessoa: “Que coisa mais ridícula”, dispara Campos logo em sua primeira aparição, enquanto Caeiro pede calma e Reis se declara triste, como sempre, bem ao estilo típico de cada um.

Recheado de cenas divertidas e bem-humoradas, o espetáculo ao revelar esse Fernando Pessoa protagonista, lança no ar uma atmosfera leve. Diante dela, o poeta surge para o público na figura humilde, porém sábia, de Jorge Madeira. Um homem aparentemente sem grande estudo, mas que ao mesmo tempo é capaz de colocar em xeque a crítica e os critérios dos quais ela faz uso para avaliar e validar uma obra. Afinal, qual é o parâmetro? A notoriedade do autor? Sua presença no rol dos cânones? Seja como for, O fingidor é uma boa forma de desestabilizar o terreno firme e seguro de tudo que é consagrado.

Serviço

O Fingidor
Em cartaz até dia 19/04 (sextas, sábados e domingos)
Com: Helio Cicero, Daniela Duarte, Douglas Simon, Fause Haten, Fernando Oliveira, Fernando Trauer, Gabriela Flores, Luiz Eduardo Frin e Marcelo Cozza
Duração: 100 minutos
Classificação: 14 anos.
Texto e direção: Samir Yazbek
Tucarena: R. Bartira esq. c/ r. Monte Alegre – Perdizes – Oeste. Telefone: 3670-8455.
Aceita os cartões Amex, Diners, Elo, Hipercard, MasterCard, Visa. Ingresso: R$ 50.
Não aceita cheques. Tem ar-condicionado. Vende ingresso pelo telefone. Tem acesso para deficiente. Proibido fumar. Tem local para comer. 170 lugares. Estac. (R$ 14, no nº 835 – convênio) ou valet (R$ 25 – sáb. e dom.).

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Uma resposta

  1. Olá
    Prezado Marcelo Cozza
    Ouvi o Funk dos Iluminados achei o máximo. Por que? Fazendo um trabalho sobre Corpomente,em curso de medicina alternativa,vi que a vc retrata bem humoristicamente,como é difícil a busca pela Coinsciência.Retirei quase toda a letra da música na dificuldade,escutando os pedacinhos, mas não consegui algumas falas.Também li livros do Castaneda e do Osho.E vc faz trás estas referências que tem haver o tema que estou desenvolvendo.Onde posso obter a letra via internet?É só como ilustração do meu trabalho.
    Agradeço se conseguir me informar.
    Atenciosamente Leila

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