Clássico de Beckett, Esperando Godot volta a ser encenado em São Paulo

11 de outubro de 2016

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Dois velhos vagabundos esperam, em uma isolada estrada rural, a chegada de alguém chamado Godot. Nenhum deles sabe exatamente quem é a pessoa e nem porque, afinal, esperam por ela. Seja como for, esperam, e, enquanto esperam, conversam.

Esse é o enredo básico de Esperando Godot, peça do irlandês Samuel Beckett (1906-1989) que tem nova montagem em São Paulo, no Teatro Tucarena. Elias Andreato, que assina a direção, interpreta Estragon, um dos velhos, enquanto Claudio Fontana faz o outro, Vladimir.

O enredo, aparentemente simples, abre-se, como é próprio ao autor, a interpretações de tal forma variadas e ricas que críticos apontam Esperando Godot como uma das maiores obras da dramaturgia moderna.

Na peça, emulando a condição humana e o absurdo da existência, os personagens esperam por algo, Godot , uma pessoa, mas que pode, da mesma forma, ser qualquer coisa que emprestamos sentido e importância para nos impelir a continuar existindo, vivendo, seja Deus, um amor, um novo emprego ou a felicidade. Godot pode, também, ser a morte, com certeza a única das opções que chega a todos, aleatoriamente, e leva tanto os justos quanto os injustos, tanto nobres quanto plebeus, os que foram amados e aqueles que inspiraram apenas ódio.

Dada a realidade aleatória e sem sentido que se apresenta ao ser humano, o que se realiza enquanto se espera também o é, afirma Beckett, que faz seus personagens preencherem o tempo enquanto Godot não chega com um palavrório e brigas que não levam a nada. Trata-se, então, de evitar o tédio, em um procedimento semelhante àquele de curtir vídeos bonitinhos de filhotes nas redes sociais ou fazer maratonas de séries (nada contra, eu mesmo adoro).

Assim, não apenas a condição humana é questionada, mas o próprio tempo, sua passagem, ou ao menos a importância de sua passagem tendo em vista que nada realmente muda e quando resta aos personagens, e a nós, apenas sentar e esperar. Godot, evidentemente.

Serviço

Até 27 de novembro. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 19h.

Quanto: R$ 50 (sexta), R$ 60 (sábados e domingos). Desconto de 50% para estudantes, maiores de 60 anos e aposentados.

Tucarena: Rua Monte Alegre, 1.024. Telefone: (11) 3670-8582.

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