O homem no subsolo de Dostoiévski volta aos palcos

3 de agosto de 2016

ViewImageMergulhado no mar da hipercomunicação, exposto até a medula nas ‘redes sociais’, mas, incrivelmente, ainda o homem no subsolo, aquele descrito por Fiódor Dostoiévski no século XIX, a roer-se pela consciência de sua incapacidade de ter qualquer liberdade verdadeira, de ter ingerência sobre seu próprio destino, apenas um boneco de forças, naturais ou sociais, que não controla. Limitado, agora, a proferir impropérios no facebook, que outra pessoa, também em um subsolo, vai ler, elogiar ou maldizer, mas que, com certeza, se perderá nesse mar de opiniões e sentimentos expostos na ‘rede’, esse museu e lembrete de sonhos e desejos.

Daí a permanência e essencialidade, também neste século XXI, da obra do escritor russo, que volta agora aos palcos em O Subsolo, adaptação de Celso Frateschi do “Memórias do Subsolo”, terceira parte da chamada Trilogia do Subterrâneo, da qual fazem parte “O Sonho de um Homem Ridículo” e “O Grande Inquisidor”.

Frateschi, que já encenou as duas primeiras partes, fala sobre a gênese dessa terceira que, embora encerre a Trilogia, foi, na verdade, a origem do trabalho: “O sonho de um homem ridículo, primeira peça apresentada, surgiu quando, ainda em 2005, recolhia material para adaptar O Subsolo. Depois de alguns anos surgiu O Grande Inquisidor e, só muito recentemente, depois de passar dos sessenta anos e viver muitas outras experiências, é que me senti mais preparado para encarar a adaptação desse romance, juntamente com a ideia de uma trilogia”.

Publicado em 1864, Memórias do subsolo, texto precursor do existencialismo e da psicanálise, traz o monólogo de um homem amargurado, um homem “subterrâneo”, sem nome ou relações sociais e que não vê sentido na própria existência.

Diferentemente dos outros dois textos, utilizados quase que integralmente nas peças, Frateschi explica que O subsolo exigiu escolhas mais difíceis e profundas: “Pela primeira vez, tive que fazer opções mais radicais na escolha da versão teatral. A edição foi inevitável, não só pela extensão da obra, mas pela radicalidade literária do original. Fazer isso, sem que o texto perdesse, foi um desafio imenso, pela primeira vez senti que para ser fiel ao espírito do autor seria necessário traí-lo”.

Serviço:

O que: O SUBSOLO – PARTE FINAL TRILOGIA DO SUBTERRÂNEO

Em cartaz até 18 de setembro (primeira temporada)

Apresentações: sextas, às 21h30, sábados, às 21h, e domingos, às 19h

Local: Ágora Teatro. Rua Rui Barbosa 664, Bela Vista – SP

Telefone: (11) 3284-0290

Preços: R$ 60 e R$30 (meia)

Duração: 55 minutos

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