Edição especial dos Epigramas de Marco Valério Marcial, traduzida diretamente do latim por Rodrigo Garcia Lopes e lançada pela Ateliê, mostra que poetas da Roma antiga já dominavam a arte de escrever com poucos caracteres bem antes da popular rede social.
Escrever com poucos caracteres para passar uma mensagem assertiva, apesar de parecer, não é uma invenção que nasceu com o Twitter. Esse recurso já era usado em Roma, quase dois mil anos atrás, por poetas como Marco Valério Marcial (aprox. 38-104 d.C.).
Considerado o pai do epigrama, forma poética breve, marcada pelo estilo satírico e engenhoso, o autor se destaca pela crítica aos costumes, posicionando-se como uma espécie de poeta-cronista de uma Roma onde a luxúria e a corrupção eram prato cheio para o estilo ferino do autor.
Além de retratar com precisão a Roma de golpistas, aristocratas, prostitutas, gladiadores e poetas, a obra de Marcial se destaca pela importância estética. A seleção traz epigramas cômicos, pornográficos e injuriosos, que fizeram a fama do autor. Em sua tradução, Rodrigo Garcia Lopes incluiu ainda poemas de amor e amizade, boemia, reflexões sobre escravidão, epitáfios tocantes e epigramas metapoéticos, nos quais o escritor reflete sobre sua própria condição de autor.
Apesar de sua importância estética, são raras as edições de Marcial no Brasil. A edição da Ateliê, que preencher essa lacuna, foi traduzida diretamente do original, é bilíngue e composta por doze pequenos “livrinhos”, reunidos em um belo projeto gráfico de Gustavo Piqueira, com 219 poemas escritos entre 86 e 103 d.C.
O livro traz ainda notas explicativas e um posfácio que inclui dados biográficos do autor e contextualiza a poesia de Marcial na Roma Antiga, além de conter informações sobre o estilo de sua poesia.