“Meus professores costumavam dizer: quando quiserem saber algo sobre a trágica aventura do homem sobre a Terra, leiam Shakespeare”, disse Juca de Oliveira. Essa lembrança do ator e dramaturgo de seus tempos nos bancos escolares, época muitas vezes determinante para os sentidos futuros das paixões e apreços, quem sabe explique o atual desafio que Juca, já octogenário, se impõe: interpretar seis personagens de Rei Lear, uma das peças mais complexas do bardo inglês.
A espetáculo, escrito em 1606 por William Shakespeare (1564-1616), volta a São Paulo, ao Teatro Eva Herz, depois de temporada no Rio de Janeiro e será encenada até 9 de agosto.
Na conhecida narrativa – no fim da vida, Lear, rei da Bretanha, decide dividir seu reino entre as três filhas, favorecendo as duas mais velhas, ambiciosas e bajuladoras, em vez de Cordélia, a mais nova, que, íntegra, nutre pelo pai afeto real, para além das aparências -, Juca interpreta, além do idoso e algo louco protagonista, as filhas, o Bobo, e o assessor do rei, Kent.
Puristas shakespearianos podem estranhar a forma de monólogo da adaptação do texto por Geraldo Carneiro, que justifica esse recorte, que perpassa os momentos centrais da trajetória de Lear, pelo desejo de aproximar ainda mais o personagem das audiências modernas, assim como seus temas – a cobiça, a ingratidão e a mudança dos valores.
Ao mesmo tempo, figurino e cenografia simples conferem ao rei e a seu ambiente a fragilidade que está no cerne do personagem que, traído em sua confiança, destituído de poder por quem mais ama, pode apenas, impotente, maldizer o destino e enlouquecer.
Rei Lear
Até 9 de agosto. Sextas e Sábados às 21h. Domingos às 19h.
Onde: Teatro Eva Herz. Conjunto Nacional: Avenida Paulista, 2.073, Bela Vista