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The Boys, a série, supera The Boys, a HQ

12 de agosto de 2019 | Por: Alexandre Postigo

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Garth Ennis, norte-irlandês naturalizado americano, tem muitos e alucinados fãs. O premiado escritor de quadrinhos tem um estilo muito próprio que envolve oferecer muita violência, cenas de sexo bizarro e escatologia, o que é popular entre certos grupos de adolescentes e adultos jovens, que admiram quem fala as coisas “como elas são”, diretamente, sem pensar muito a respeito.

Nos melhores momentos do autor – raros em seus trabalhos recentes -, no entanto, essa iconoclastia é contrabalanceada com roteiros e diálogos inspirados e até emocionantes. Nesses casos, a violência e o “dizer as coisas diretamente” estão sempre a favor de algo mais. Há uma ideia mais profunda que aparece no texto e na arte da narrativa que torna o todo mais interessante.

Assim foi, por exemplo, em alguns dos trabalhos que produziu com o Justiceiro, personagem da Marvel, ou Hellblazer, para a DC/Vertigo (uma ótima passagem, diga-se), mas, principalmente, em histórias de guerra ou em minisséries como “Soldado Desconhecido” – este último título, sim, uma pequena obra de arte. O verdadeiro valor da coragem, do companheirismo, da honra, esses são alguns dos temas caros ao escritor irlandês.

Em The Boys, HQ agora transformada em série pela Amazon, como já havia feito em Preacher e mesmo em Hitman, Ennis usa de forma recorrente o “shock value”, cenas chocantes que têm, aparentemente, o único objetivo de chocar. Nesse sentido, na HQ, que trata de uma equipe que caça super-heróis com compulsões para lá de depravadas, são comuns surubas entre os super-humanos, assim como mortes bizarras e repletas de humor negro. Mesmo divertidas, essa sucessão de cenas chocantes fazem muitas vezes o leitor que busca um pouco mais de profundidade, mínima que seja, se perguntar por que, afinal, está lendo aquilo.

Em The Boys, a série, a muleta do choque pelo choque, ou melhor, por mais audiência, está devidamente domada. A violência e o sexo, e os há em quantidade, sugeridos ou explícitos, estão a serviço da narrativa.

Isso acaba contribuindo para que The Boys tenha essa qualidade tão desejada em séries: que não enrole desnecessariamente, que seja dinâmica ao fazer a história se desenrolar ou ao apresentar as motivações dos protagonistas.

Aliás, se na HQ alguns dos personagens parecem estar lá apenas para que Ennis possa ofender alguns grupos de pessoas (os franceses, por exemplo, pelos quais o autor parece ter um particular desapreço), na série os protagonistas são organicamente apresentados, ou seja, aos poucos e conforme a necessidade da história. Não há pontas soltas.

É assim, por exemplo, que conhecemos Billy Carniceiro (encarnado de forma bem convincente por Karl Urban) e as razões de seu ódio pelos super-heróis, particularmente pelo Patriota, uma versão psicótica do Superman, que na série é vivido pelo ator Antony Starr que conseguiu conferir a essa horrível pessoa, na HQ um mero amontoado de atrocidades, qualidades humanas, o que é um feito e tanto.

Outros membros da equipe que caça os super-heróis – como o Francês e a Fêmea – são incorporados à trama conforme suas histórias pessoais ou habilidades são necessárias para o desenvolvimento da narrativa, o que é mais do que se pode dizer da trama desenvolvida por Ennis na HQ, onde as coisas parecem forçadas para se chegar onde ele realmente deseja, ou seja, mais cenas chocantes e bizarras.

Nada contra, mas não é apenas com isso que se conta uma boa história.

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